segunda-feira, 26 de outubro de 2015

26 anos do lançamento do álbum “As Quatro Estações”, do Legião Urbana

Esse foi o disco com o maior número de sucessos radiofônicos e - consequentemente – de maior alcance, lançado em 26 de outubro de 1989 pela banda de maior sucesso da história do rock brasileiro.

Lançado dois anos após Que País É Este, da imortalizada Faroeste Caboclo, este álbum foi de diversas maneiras um divisor de águas na história da banda. Foi durante as gravações deste disco que ocorreu a saída do baixista Renato Rocha, o Negrete, morto em fevereiro de 2015. O então baixista da Legião era o mais introvertido do grupo, algo que ressentia muito o líder visceral da banda. Punk por convicção, gostava mais das músicas pesadas da banda, algo que não combinava com o estilo mais lírico do, ainda em germinação, As Quatro Estações. Outra peculiaridade deste trabalho foi a virada na temática da banda até aquele momento, partindo para uma temática mais poética e instrumental e deixando para trás o hardcore presente nos três primeiros discos. O próprio Renato Russo deixou claro isso em uma entrevista pouco antes do seu lançamento. “Não estou a fim de falar de enchentes, Aids, governo. Quero cantar canções de amor, baladas íntimas, musiquinhas para cantar junto. Já desisti de fazer músicas para salvar o mundo. Eduardo e Mônica estão divorciados”.

Foram 16 meses de gestação deste álbum, entre concepção, gravação, mixagem e lançamento. A mudança conceitual foi bem resumida na frase: “Era pra ser mais Byrds e menos Sex Pistols”, dita por Renato Russo. Entraram nos estúdios da EMI com temas mais espirituais que materiais: Buda, Tao-te-king, São Paulo aos Coríntios, Luís de Camões. “A gravação de As Quatro Estações foi nosso calvário”, diria Dado Villa-Lobos. “Mas foram os momentos mais criativos da banda em estúdio. Tínhamos coisas experimentais, como Feedback song for a dying friend, com aquela letra shaksperiana do Renato, que depois foi traduzida para o português pelo Millôr Fernandes, com aquele trabalho de arranjos”.

A faixa Feedback song for a dying friend merece um capitulo à parte. Sua letra foi composta em 1985, antecipava o pesadelo da Aids. Escrita em inglês, foi traduzida por ninguém menos que Millôr Fernandes, tradutor de Shakespeare e outros clássicos ingleses. Ele aceitou esse desafio não só pelo dinheiro; gostava da música e do comportamento do autor do poema. Ao ler pela primeira vez os versos da canção, fica intrigado:

- Como é que um cara que escreve tão bem em inglês me pede para botar esses versos em português?

Percebeu sutis jogos de palavras, como no duplo significado de “feedback” (além do sentido original “retorno”, a palavra também designa o efeito de microfonia nos shows). Recusa a palavra “moribundo” como sinônimo de “dying friend”. Faz a opção por “à morte”, para sair do tom doentio e ir para o metafísico. “Canção retorno para um amigo à morte”, tradução para Feedback song for a dying friend, é impressa no encarte prateado de As Quatro Estações, novo disco do - agora oficialmente - trio, Legião Urbana. Ao ser lançada naquele momento, essa canção foi vinculada diretamente com a morte em público de Cazuza, soropositivo que decidira transformar a doença numa declaração política. “Era importante como artista eu me posicionar sobre isso”, declarou Renato, impressionado com o exemplo do colega. “Sejamos honestos: há uma relação homossexual na música”.

A sexualidade, inclusive, que foi trazida à tona neste disco. Pela primeira vez uma música de Renato falava abertamente sobre sua opção sexual na canção Meninos e Meninas. Se antes, em Soldados ou Daniel na cova dos leões, haviam referências veladas ao homossexualismo, aqui tudo era tratado às claras, sem culpas ou medos. A faixa que precedia Meninos e Meninas no disco, Maurício, também versava mais ou menos sobre o mesmo tema. Uma dolorida canção de (des)amor, que Renato dizia fazer referência, no nome, a um fã entrevado de Santa Maria RS, e no conteúdo a um caso que ficara pela estrada da vida.

Fãs ou não, é praticamente impossível ignorar a importância deste disco não apenas para o rock nacional, mas para a MPB como um todo. Impressionantes 450 mil cópias haviam sido vendidas por antecipação e ao total foram mais de 1,7 milhão de cópias, garantindo-lhe o disco de Platina. Além de ser uma obra de referência para a geração que hoje está na casa dos 30, 40 anos, como este que vos escreve.

Quantos não tiraram seus primeiros acordes de violão tentando tocar Quando o sol bater na janela do seu quarto ou cantaram a plenos pulmões os famosos versos “E há tempos / Nem os santos têm ao certo / A medida da maldade / E há tempos são os jovens / Que adoecem/ E há tempos / O encanto está ausente / E há ferrugem nos sorrisos / Só o acaso estende os braços / A quem procura / Abrigo e proteção...?

Na última sexta (23), os dois remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, iniciaram a turnê nacional de retorno da banda, em Santos SP. A cidade foi escolhida para abrir a turnê por ter sido palco da última apresentação da banda, em 1995 (em outubro do ano seguinte, Renato Russo viria a falecer). A ideia para a turnê surgiu no começo do ano, após a gravadora EMI – hoje parte da Universal Music – propor à dupla Bonfá e Dado o lançamento, até o fim do ano, da edição especial do álbum de 1985.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ribeirão Grande SP e sua homônima. A confusão feita entre suas respectivas histórias

Há algum tempo as confusões feitas entre as histórias entre minha cidade natal, Ribeirão Grande, e o extinto distrito de mesmo nome - hoje pertencente ao município de Pardinho – vêm me causando um certo incômodo.

Não é segredo para ninguém, pelo menos aqueles que já tiveram a curiosidade de pesquisar sobre as origens das cidades do vale do Ribeira, principalmente, as cidades do chamado “Alto Paranapanema”, ou seja, as cidades próximas das nascentes deste rio. Seria até irônico se não fosse trágico. Uma das regiões pioneiras quando se trata de colonização no estado, ser tão esquecida em seu aspecto historiográfico.

A tão famosa Freguesia Velha, os “Encanados” e as minas do Paranapanema, tópicos quando tratamos sobre as histórias de Capão Bonito e Ribeirão Grande e tão bem registrados aqui no ambiente blog por excelentes criadores de conteúdo como os blogs Ribeirão Grande (http://vivianedomy.blogspot.com.bre Minas do Paranapanema (http://minasdoparanapanema.blogspot.com.br), mesmo carentes de merecidas pesquisas acadêmicas aprofundadas, são os principais resquícios que sobreviveram à nossa inexplicável negligencia com o nosso passado.

Vários sites oficiais, como o portal de turismo do Estado de São Paulo (http://www.turismoemsaopaulo.com/visitantes/43-destinos/1178-ribeirao-grande.html) e o Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal, Cepam (http://www.cepam.org/municipios/municipios-paulistas/ribeirao-grande.aspx#ad-image-0),  apresentam informações errôneas sobre a origem do munícipio. Como seria possível um povoado totalmente dependente do munícipio distante apenas 11 km, Capão Bonito, se tornar um distrito da então cidade de Espírito Santo do Rio Pardo, hoje Pardinho?

O excelente livro publicado pela ONG IDEAS, de 2011, “Roteiro Turístico dos Encanados” (foto) traz a mesma equivocada informação.  As coincidências entre as duas localidades explicam, em parte, a confusão. Ambas têm como padroeiro o Bom Jesus, ficam em regiões relativamente próximas, mas, sem dúvidas, a falta de documentos e estudos acadêmicos de peso causam esse tipo de incorreções históricas.


Um dos pioneiros núcleos populacionais naquela região do Estado mereceria um olhar mais atento sobre sua história, costumes e tradições, muitas delas que ainda sobrevivem somente nesse pedaço de terra que enche de orgulho seus filhos e de saudades aos que deixaram alguns anos de suas vidas por aquelas paragens.